Corpus Christi: a Eucaristia como Mistério de Amor e Compromisso com a Caridade

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Reflexão do assessor espiritual da SSVP Brasil destaca a Eucaristia como fonte de fé e caridade na vida cristã

Na celebração de Corpus Christi, a Igreja Católica reafirma a presença real de Jesus na Eucaristia, convidando os fiéis a renovarem sua fé e compromisso com o próximo. Neste artigo especial, padre Allan Júnior Ferreira, assessor espiritual da SSVP Brasil, nos convida a refletir sobre a profundidade espiritual desse mistério, lembrando que o verdadeiro sentido da comunhão se manifesta também na vivência concreta da caridade, especialmente junto aos mais pobres. Confira a seguir a íntegra do artigo escrito pelo padre Allan para esta data tão significativa:

“Eucaristia: mistério de amor”
Por Pe. Allan Júnior Ferreira – Assessor Espiritual da SSVP Brasil

Queridos Confrades e Consócias. Aproxima-se mais uma vez a solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, o “Corpus Christi”. Esta solenidade tem origens no século XIII e tem como objetivo reafirmar a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Ao sairmos em procissão pelas ruas com o Santíssimo Sacramento, queremos apresentar ao mundo a razão da nossa fé. É o próprio Cristo que caminha conosco e é n’Ele que devemos depositar toda a nossa esperança.

A palavra Eucaristia significa “ação de graças” e foi num momento de agradecimento que Jesus reuniu os seus amigos para uma ceia e ali instituiu esse Sacramento. “Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim.’ Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim’.” (1Cor 11, 23-26). A Instituição da Eucaristia antecede a hora da Paixão, por isso, além de ação de graças, é também recordação do sacrifício de Jesus Cristo, que se entregou à cruz por amor à humanidade. Todas as vezes que celebramos a Missa recordamos e atualizamos esse mistério de amor, fonte abundante de graças que são derramadas sobre cada um que se aproxima com fé da mesa da Eucaristia. “Graças e louvores vos sejam dados a cada momento, ó Senhor, por nos ter dado como alimento e como bebida vossa carne e vosso sangue. Ó meu Senhor, de que modo poderei agradecer-vos dignamente!” São Vicente de Paulo (XI, 91).

Quando o padre consagra o pão e o vinho, pela ação do Espírito Santo, ao terminar o relato da Instituição da Eucaristia, convida a todos os fiéis a contemplar o “mistério da fé”. A Eucaristia é um grande Mistério da nossa fé. Aqui a palavra mistério não significa algo escondido ou que não se pode revelar. É mistério, pois nossos sentidos são incapazes de abarcar tão grande dádiva ao contemplar as espécies do pão e do vinho transubstanciadas em Corpo e Sangue de Jesus. Assim nos lembra Santo Tomás de Aquino em um hino tão presente no meio de nós: “Venha a fé por suplemento os sentidos completar”.

A Eucaristia, Corpo e Sangue de Cristo, é um dom inestimável para a Igreja. Quando comungamos, nos tornamos outros Cristos para nossos irmãos e irmãs e isso significa que comungar é também se comprometer com tudo aquilo que Jesus viveu e ensinou, sobretudo a caridade. Esta que é sinônimo de amor deve ser a marca do cristão. Não se concebe alguém que, vivendo em conflito com seu irmão e tendo um coração fechado para o perdão, viva plenamente o dom da Eucaristia que recebeu.

A caridade, sobretudo para com os mais pobres e sofredores, nos aproxima desse mistério da fé. A Eucaristia não deve ser vivida isoladamente, ela nos compromete com os que estão à nossa volta. Somos comunidade de amor e o cristão católico jamais poderá ficar alheio a essa dimensão da Eucaristia. Se comungamos, devemos também estar em comunhão com os irmãos e irmãs.

Os santos entenderam bem essa dupla dimensão da Eucaristia. São Vicente de Paulo tinha tanta convicção de que Cristo também estava presente nos pobres que ousou dizer a uma Filha da Caridade que, se no caminho da Igreja encontrasse um pobre caído, devia deixar a Missa e socorrer aquele pobre, pois estaria deixando Deus por Deus. Também às Filhas da Caridade — e que vale para nós também hoje — exortou: “quando virdes uma irmã da Caridade servir os doentes com amor, mansidão, grande cuidado, podereis dizer ousadamente: ‘Essa irmã comungou bem’”. (IX, 332).

Por isso, vivamos a nossa espiritualidade eucarística como nos lembrou o beato Antônio Frederico Ozanam: “E nós não vemos a Deus senão com os olhos da fé, e nossa fé é bem fraca. Os homens, porém, e os pobres, nós os vemos com os olhos da carne. Eles estão ao nosso alcance […] e nós deveríamos cair a seus pés e lhes dizer como o Apóstolo: ‘Meu Senhor e meu Deus’”.

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